sexta-feira, 20 de abril de 2012

Entenda o caso Cachoeira, que será alvo de CPI no Congresso


13/04/2012 - 19h36

Entenda o caso Cachoeira, que será alvo de CPI no Congresso


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Atualizado em 18/04/2012 às 19h28.
As relações do empresário de jogos ilegais Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos, servidores públicos e empresários serão investigadas por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso Nacional. O empresário foi preso no dia 29 de fevereiro, durante a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que desarticulou organização que explorava máquinas de caça-níqueis no Estado de Goiás.
O contraventor, apontado pela PF como chefe do grupo, ficou conhecido com o caso Waldomiro Diniz, o ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil, considerado o primeiro escândalo do governo Lula, em 2004.
Cachoeira é suspeito de vários crimes, entre os quais corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e contrabando.
Entre as relações do empresário que serão investigadas está sua ligação com o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM). Interceptações telefônicas feitas com autorização judicial indicam que o parlamentar atuava no Congresso em favor de Cachoeira. Outras gravações revelaram o envolvimento de servidores públicos do Incra e de funcionários dos governos estaduais de Goiás e do Distrito Federal.
Veja abaixo a cronologia e os detalhes do caso:
29.fev - A Polícia Federal prende o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, durante a Operação Monte Carlo, que desarticulou organização que explorava máquinas de caça-níqueis no Estado de Goiás. Foram 82 mandados judiciais, sendo 37 mandados de busca e apreensão, além de 35 mandados de prisão e 10 ordens de condução coercitiva em cinco Estados.
3.mar - Grampos da Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo revelam a ligação entre Carlinhos Cachoeira e políticos de Goiás, incluindo o governador Marconi Perillo (PSDB) e o senador Demóstenes Torres (DEM).
Lula Marques - 1.mar.2012/Folhapress
A operação Monte Carlo resultou na prisão de Carlinhos Cachoeira
A operação Monte Carlo resultou na prisão de Carlinhos Cachoeira e revelou sua ligações com políticos
6.mar - Em pronunciamento na tribuna do Senado, Demóstenes Torres negou ter concedido favores a Carlinhos Cachoeira, e disse "não haver motivos" para se defender porque mantinha uma relação de amizade com o empresário, sem qualquer vínculo profissional.
12.mar - O líder do PSOL na Câmara, deputado Chico Alencar (RJ), entrega à corregedoria da Casa pedido de investigação sobre as relações de parlamentares com Carlinhos Cachoeira.
14.mar - Carlinhos Cachoeira e mais 81 pessoas na mira da Operação Monte Carlo sãoindiciadas pela Polícia Federal por crimes como corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, contrabando, formação de quadrilha e violação de sigilo profissional, além da contravenção penal de exploração de jogo de azar.
16.mar - Relatório do Ministério Público Federal mostra que Carlinhos Cachoeira entregoutelefones habilitados nos Estados Unidos (para supostamente evitar grampos, o que não aconteceu) a políticos, incluindo Demóstenes Torres (que admitiu à Folha ter recebido o aparelho) e Cláudio Monteiro, chefe de gabinete do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que negou. O objetivo, segundo o Ministério Público, seria dificultar eventuais investigações.
20.mar - PT, PSB, PDT e PSOL pedem à Procuradoria que investigue a suposta relação de parlamentares --entre eles, Demóstenes Torres-- com Carlinhos Cachoeira.
27.mar - Após a divulgação dos grampos que indicam a ligação com Carlinhos Cachoeira, Demóstenes Torres pede o afastamento da liderança do DEM no Senado.
29.mar - O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski determina, a pedido da Procuradoria Geral da República, a quebra de sigilo bancário de Demóstenes Torres.
Marcello Casal/Agência Brasil
Demóstenes Torres comparece à sessão no Conselho de Ética do Senado
Demóstenes Torres comparece à sessão no Conselho de Ética do Senado
30.mar - Cúpula do DEM indica que vai pedir a Demóstenes que ele deixe o partido, no mesmo dia em que são publicadas as transcrições de escutas telefônicas que mostram que o senador usou o cargo para ajudar Carlinhos Cachoeira.
31.mar - A Folha revela gravação em que Carlinhos Cachoeira pediu ajuda a Demóstenes para impedir a convocação do empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, para depor numa comissão da Câmara, em maio do ano passado.
3.abr - Após a ameaça de expulsão do DEM, Demóstenes Torres envia carta à cúpula do partido solicitando a sua desfiliação. Novas gravações revelam que o grupo de Cachoeira negociou propina no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) com o objetivo de regularizar uma fazenda. O superintendente do Incra no DF, Marco Aurélio Bezerra da Rocha, é afastado sob a suspeita de receber propina do grupo de Cachoeira.
5.abr - Relatório da Polícia Federal revela que o grupo de Cachoeira contratou uma empresa de um agente aposentado da Polícia Federal, Joaquim Gomes Thomé Neto, parainterceptar e-mails de forma ilegal. Há suspeitas de que políticos e jornalistas estejam entre os que tiveram seus e-mails interceptados ilegalmente pelo grupo.
6.abr - Reportagem da revista "Época" com gravações da Polícia Federal revela que, em abril de 2011, Cachoeira orientou Demóstenes Torres a deixar a oposição, trocando o DEM pelo PMDB. No entanto, a troca de partido, que tinha o apoio do Palácio do Planalto, fracassou devido à possibilidade de cassação do mandato de Torres por infidelidade partidária.
7.abr - A Folha revela ligações entre a empreiteira Delta --maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos-- e o grupo de Cachoeira. Segundo relatórios de inteligência da PF na Operação Monte Carlo, há indícios "de que a maior parte dos valores que 'entram' nas contas de empresas fantasmas [ligadas ao grupo do empresário] são oriundos da empresa Delta Construções".
Lula Marques - 13.jul.05/Folhapress
Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, foi preso em 29 de fevereiro pela Polícia Federal
Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, foi preso em 29 de fevereiro pela Polícia Federal
9.abr - A defesa de Carlinhos Cachoeira entra com pedido de habeas corpus no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Após a ministra Laurita Vaz recusar a relatoria do pedido, alegando "foro íntimo", o ministro Gilson Dipp negou o pedido.
10.abr. - A Câmara e o Senado fecham acordo para instalar CPI mista sobre o caso Cachoeira, horas depois de o Conselho de Ética do Senado acolher pedido do PSOL e abrir processo contra Demóstenes Torres por quebra de decoro parlamentar. No Distrito Federal, Cláudio Monteiro deixou o cargo de chefe de gabinete do governo distrital após a revelação de gravações em que duas pessoas discutem um suposto pagamento de propina a Monteiro relacionado a contratos do governo do DF, no "Jornal Nacional".
11.abr - Demóstenes Torres é notificado pelo Conselho de Ética do Senado sobre o processo por quebra de decoro parlamentar, e tem dez dias para apresentar sua defesa.
12.abr - Diálogos telefônicos interceptados pela Polícia Federal sugerem que a construtora Delta, uma das maiores do país, pagou propina para receber pagamentos por serviços prestados ao governo do Distrito Federal.
14.abr - Em entrevista à Folha, o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) --que deve ser investigado por envolvimento com Carlinhos Cachoeira e está ameaçado de perder o mandato-- disse que conhecia o envolvimento do empresário com a exploração de jogo ilegal. "Se eu falar para você que não tinha conhecimento de que ele mexia com jogo seria hipócrita", disse.
15.abr - Reportagem da Folha revela que o contador de Cachoeira sacou no ano eleitoral de 2010 R$ 8,5 milhões dos cofres da construtora Delta a partir de uma conta de uma empresa fantasma. No mesmo dia, reportagem do jornal "Correio Braziliense" divulga conversas telefônicas que revelam que Demóstenes Torres também defendeuinteresses do grupo de Cachoeira no Ministério Público de Goiás.
Sérgio Lima - 16.nov.2011/Folhapress
Agnelo Queiroz também teve integrantes do seu governo envolvidos no caso Cachoeira
Agnelo Queiroz também teve integrantes do seu governo envolvidos no caso Cachoeira
16.abr - Depois de não acompanhar o enterro da mãe, Cachoeira consegue liminar judicial para ser transferido de Mossoró (RN) para Brasília.
17.abr - A Câmara e o Senado conseguem as assinaturas necessárias para instalar a CPI do Cachoeira; o pedido é protocolado no mesmo dia. No Distrito Federal, a Câmara Legislativa aprova a criação da CPI da Arapongagem, para investigar o suposto esquema ilegal de informação instalado da Casa Militar do governo distrital; cerca de 80 pessoas foram investigadas ilegalmente, entre elas procuradores, jornalistas e parlamentares.
18.abr - Escutas e relatório do Ministério Público Federal publicados pela Folha mostram que Demóstenes Torres usou o cargo para negociar um projeto de R$ 8 milhões em favor da construtora Delta.


Editoria de Arte/Folhapress

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